Bom dia! Luiza Caires aqui, trazendo nesta edição os assuntos mais comentados da ciência nos últimos dias. Caso esteja em dúvida, são eles mesmos: o filme do cometa e o lançamento bem sucedido do telescópio James Webb. A covid infelizmente continua não dando trégua, e o nosso convidado da vez, Isaac Schrarstzhaupt, fala das tendências da pandemia. A newsletter é curta, mas os links são fartos: aproveite o Polígono de hoje, 28/12/21.

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NOTAS RÁPIDAS

Olhe bem pra cima

Há quem diga que o filme “Não olhe para cima” não é sobre ciência, mas sobre política - e faça paralelos com os personagens da cena brasileira (memes imperdíveis inclusos). Tem quem considere que fala sobre comunicação. Há, ainda, quem ache que é sobre a idiotice reinante. Cada um ressalta o lado que fala mais alto a si - pessoalmente, consigo ver todos eles no filme.  Fato é que a produção da Netflix mobilizou centenas de postagens da comunidade ligada à ciência esta semana.

Torcicolo

Sem escrever mais um textão, nem dar muito spoiler, posso dizer que o filme não prima pela sutileza, esfregando na nossa cara temas doloridos, em particular para quem também tem a difícil tarefa de alertar a população sobre riscos reais, dos vírus à crise climática. Vem daí tamanha identificação da parte dos cientistas e divulgadores, que por sinal estão longe de serem idealizados na obra. Eles sabem o torcicolo que dá olhar o tempo todo para cima.

Fura bolha

Entendo os que criticam a simplicidade (ou superficialidade) do roteiro, mas ele cumpriu a sátira que se propôs fazer, sem firulas ou reflexões densas. Esperamos que chegue, e parece ter chegado, bem além da bolha - sempre o nosso maior desafio ao falar de ciência. Vou discutir mais sobre isso nesta live quarta-feira (29).

Webb, James Webb

Após incontáveis “adiar missão” deixarem o pessoal tenso, o maior telescópio espacial construído pela humanidade finalmente está onde deveria: no espaço. No dia de Natal, a primeira parte de uma longa missão foi concluída com sucesso. Esse fio do Elismar Lösch detalha toda a tecnologia do James Webb, enquanto a Ana Posses e a Camila Esperança resumem o que ele pode fazer.

Ômicron ou influenza

O apagão de dados prossegue, e assim fica difícil discernir com clareza qual parte da alta nas internações que hospitais registram ké por covid ou fruto da epidemia de H3N2. O que dá para saber é que essas duas “pragas” convivem em todo o país. As vacinas contra a covid continuam protegendo bem contra sintomas graves, mas ninguém quer pegar a doença para saber. Até porque temos idosos, com risco aumentado pela idade, e crianças, lamentavelmente ainda sem vacina. Pelo menos, as mesmas medidas preventivas que valem para influenza valem para covid. Ventilação e máscara na cara, meu povo.

Luzes barulhentas

As pessoas podem aplaudir a aurora boreal pela beleza, o problema é se a aurora aplaude de volta, né? Brincadeiras (ou drogas) à parte, está em aberto há anos a questão dos possíveis ruídos associados ao fenômeno das luzes cintilantes vistas em países como a Noruega. Ilusão auditiva? Esse texto do The Conversation discutido no Reddit no Reddit relata o debate científico e traz um vídeo de pesquisadores que, em tese, foram capazes de gravar os sons.

Luto

A biologia perdeu dois de seus grandes expoentes nos últimos dias. Um deles é Thomas Lovejoy, cientista pioneiro da defesa da biodiversidade e com trabalho relevante para a preservação da Amazônia. Outra perda foi a do naturalista Edward Wilson. Especialista em formigas e grande desenvolvedor da biologia evolutiva, também foi escritor celebrado e atuante na defesa do meio ambiente.

Você sabia?

  • A Luciana Feliciano explicou muito bem aqui por que não comer pão mofado. E não vale só tirar o verdinho.
     
  • Testes rápidos de antígeno continuam funcionando com a Ômicron. O Michel Mina conta tintim por tintim o que significam diferentes resultados em diferentes momentos (em inglês).
     
  • O CDC flexibilizou o isolamento de quem testou positivo para covid ou teve  contato com infectado. O prazo geral caiu para 5 dias, desagradando a comunidade científica, que reclama da falta de evidências para a decisão.
     
  • Aconteceu o que as tendências já apontavam: a China passou os EUA e lidera a produção científica mundial.
     
  • "Esculhambação": ótima definição do Roberto Kraenkel para a consulta pública sobre vacinação infantil, que sequer deveria ocorrer. Perguntas confusas e enviesadas e um sistema técnico frágil e limitado se somaram ao vexame.

NOTA DO CONVIDADO

Vacinar crianças é urgente
Por Isaac Schrarstzhaupt

Isaac Schrarstzhaupt é gerente de inovação e TI e Coordenador na Rede Análise Covid-19. Na sua nota, ele faz um balanço do que já conquistamos/perdemos e traz algumas tendências que os números mostram sobre a pandemia.

Chegamos ao final de 2021 com muitas novidades e muitos avanços nesta longa batalha contra a covid-19. Vimos as vacinas serem aplicadas, vimos as coberturas vacinais aumentando e, ao mesmo tempo, as curvas de óbitos caindo! Vimos também flexibilizações de medidas muito importantes para frear o avanço da doença. Flexibilizações que acabaram se correlacionando a novos aumentos de casos pelo mundo, e que explodem onde a ômicron domina

Agora estamos em mais uma fase importante deste avanço, que é a vacinação nas crianças de 5 a 11 anos, já aprovada em países como os EUA, que vacinaram mais de 6 milhões de crianças nessa faixa etária. No Brasil, podemos ver o impacto desta doença ao compararmos as 1.600 mortes por covid-19 que ocorreram de julho de 2020 a junho de 2021 em crianças e adolescentes de 0 a 19 anos com as menos de 400 mortes por Influenza na pandemia de 2009.

Ao olhar para a África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos (principalmente Nova Iorque), vemos um aumento significativo de hospitalizações em crianças, o que é um sinal de alerta para nós aqui no Brasil. Precisamos vacinar os pequenos o quanto antes para podermos protegê-los e, de quebra, conquistar uma maior homogeneidade na cobertura vacinal de todo o país.

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Essa newsletter tem curadoria de Luiza Caires, desenvolvimento de Renata Hirota, design de Rodolfo Almeida, edição de Alexandre Orrico e Sérgio Spagnuolo e apoio do Instituto Serrapilheira. Saiba mais.

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