Bom dia! Aqui é a Chloé Pinheiro, assumindo temporariamente o piloto do Polígono no lugar da grande Luiza Caires. Na minha estreia, falamos sobre a falsa volta da pólio e do risco real de reintrodução da doença no país, do misterioso sumiço de caranguejos do Alaska e otras cositas más. Por fim, nossas duas convidadas Ethel Maciel e Tatiana Roque discutem o futuro da ciência brasileira com o novo Legislativo eleito. Esse é o Polígono desta terça, 18/10/2022.

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NOTAS RÁPIDAS

A pólio voltou…
No último dia 06, a internet brasileira pegou fogo com a notícia de um caso suspeito de poliomielite no Pará. Muita gente se revoltou com a possível volta da doença, só que não era bem assim, e eu mesma acabei tuitando uma informação errada no afã de dar respostas rápidas.

… Só que (ainda) não
Na verdade, a criança desenvolveu sintomas de paralisia poucos dias depois de receber a vacina oral, a da gotinha. Daí, encontraram o vírus atenuado usado nesse imunizante nas fezes da criança. Só que isso é esperado: se a criança tomou a vacina da gotinha, vai expelir partículas virais no cocô, como me explicou a médica Isabela Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Reação à vacina
O Ministério da Saúde já confirmou que não se trata de um caso de poliomielite, e que as reais causas da paralisia continuam em investigação. Entre as possibilidades, a síndrome de Guillain-Barré é uma raríssima reação adversa à vacina, que teria sido facilitada por um erro na aplicação da dose.

Vacinação
De qualquer maneira, ainda há motivos para se preocupar, porque o Brasil é considerado um país com risco altíssimo de reintrodução da poliomielite e a última campanha de vacinação flopou.

Varíola dos macacos
No último dia 15, um homem de 36 anos morreu em Praia Grande, litoral de São Paulo, após contrair a varíola dos macacos. Sim, não só ainda não temos um nome melhor para a doença como ela segue se espalhando pelo Brasil sem gerar comoção. Já são 8,6 mil casos e 7 mortes. O Brasil é o país com mais óbitos fora do continente africano, onde o vírus é endêmico.

Chupa, Einstein!
Saíram os vencedores do Prêmio Nobel deste ano. Entre os destaques, o sequenciamento genético do neandertal, hominídeo extinto mais próximo do ser humano e muitos agradecimentos dos laureados aos jovens cientistas envolvidos nas pesquisas. Como nota curiosa, um pessoal nas redes fez piada especulando a reação que Albert Einstein teria ao ver o prêmio de Física deste ano indo para avanços na física quântica. Ele tinha uma birra com o tema. Se quiser saber mais sobre a premiação, a Mell compilou tudo lá no site do Núcleo.

Cientistas na luta
Com o segundo turno agitado e a possibilidade de uma reeleição de Bolsonaro, tem mais cientistas e profissionais de saúde fazendo campanha pró-Lula. Incluindo o fisioterapeuta Fábio Rodrigues, do Incor, que relembrou momentos dramáticos vividos na pandemia e o que o presidente estava fazendo enquanto eles aconteciam. Ah, e tem também toda a mobilização que rolou contra o bloqueio de verbas das universidades (que deu certo!).

Cadê o caranguejo que estava aqui?
O governo do Alaska cancelou pela primeira vez a temporada de pesca do caranguejo-das-neves, espécie mais comum do Mar de Bering. De acordo com as autoridades locais, mais de um bilhão de espécimes sumiram da água. O aquecimento global está sendo apontado como principal culpado, mas na verdade isso pode ter mais a ver com a pesca exagerada, como aponta esse excelente fio do perfil Unpopular Science.

Para descansar os olhos
A Elfa dos Insetos nos brindou com esse vídeo impressionante do louva-a-deus orquídea, que desfila sua beleza nas florestas do sudeste da Ásia.

POLÍGONO NO SITE

Simbora, gotinha
A propósito, ontem (17.10) se comemorou o Dia Nacional da Vacinação e nossa colunista Mellanie Fontes Dutra compilou o melhor da mobilização nas redes para resgatar nossos tempos áureos de Zé Gotinha.

VOCÊ VIU?

  • Um estudo publicado na Nature aponta que os pterossauros podem ter evoluído de pequenos répteis. A origem dos primeiros vertebrados capazes de voar é um dos mistérios da paleontologia. Um dos “elos perdidos” pode ser o Scleromochlus taylori, espécie de mini-dinossauro que viveu há 230 milhões de anos e cabia na palma de uma mão.
  • Microplásticos foram encontrados no leite humano pela primeira vez. O estudo analisou amostras do leite materno de 36 mulheres e 75% delas continham os polímeros. Ainda não se sabe o efeito disso na saúde dos bebês, mas evidências preliminares apontam que esses polímeros são tóxicos. O mesmo grupo já havia encontrado resíduos na placenta da mãe.
  • Há anos, ativistas do país asiático Mianmar denunciam que o âmbar da região é explorado indevidamente pela comunidade científica internacional, graças aos conflitos internos vividos pelo país, que enfraquecem o controle legal da exportação. Agora, um estudo recém-publicado da Nature mostrou em detalhes como parte da paleontologia se beneficiou da guerra em Mianmar.
  • O quão distante podemos enxergar no universo? É a pergunta que a Roberta Duarte responde nesse fio super bacana no seu Twitter. Um spoiler: a gente vê bem pouco do tamanho real do universo, que continua crescendo!

NOTA DAS CONVIDADAS

Fiquei tão preocupada com a minha estreia no Polígono que acabei convidando não uma, mas duas pesquisadoras super gabaritadas para esse espaço. Juntas, elas discutem o futuro da ciência brasileira após as eleições dos deputados e senadores, os cortes recentes e as tentativas de eleger uma bancada da ciência.

A salvação da ciência é pela política
Ethel Maciel, epidemiologista e professora da UFES

No mês que celebramos a Ciência e Tecnologia, o governo federal restringe mais ainda o financiamento da ciência retirando mais de R$ 1,2 bilhão do Fundo Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) para pagamento de outras despesas, incluindo emendas parlamentares.

Em paralelo, o presidente, demonstrando mais uma vez o desconhecimento e a desvalorização que seu governo promoveu aos institutos de pesquisa e universidades, respondeu ao adversário no último debate que não fez nenhuma universidade porque a pandemia fechou essas instituições.

Desconhece que as universidades nunca param, as pesquisas e a extensão, como as que ocorrem nos hospitais universitários, continuaram sendo realizadas, apesar dos cortes. O Congresso Nacional torna-se, portanto, o poder fundamental para que a recomposição do orçamento do FNDCT possa ser reativada e que ele possa efetivamente servir para seu propósito, qual seja, o impulsionamento da ciência no Brasil.

Cortes e verbas
Tatiana Roque, professora da UFRJ; integrou a Bancada da Ciência e ficou como 1ª suplente ao cargo de deputada federal

Para além dos cortes de verbas, o negacionismo tornou-se um problema grave no debate político. Longe de ser sintoma de ignorância ou baixa escolaridade, o negacionismo é uma arma do projeto político da extrema-direita, como mostro no artigo “A queda dos experts”.

Diante dessa ameaça, somada a cortes de verbas sucessivos, surgiu a proposta de uma Bancada da Ciência no Congresso Nacional. O debate científico torna-se cada vez mais presente nas disputas sobre políticas públicas. Daí a importância de termos pessoas qualificadas debatendo o tema na arena política.

Dos integrantes do movimento, poucos se elegeram e apenas uma nova deputada, Ana Pimentel (PT-MG), ainda não tinha mandato. Edward Madureira, criador da iniciativa, Ricardo Galvão e eu mesma tivemos votações expressivas, mas ficamos na suplência.

Mesmo assim, a experiência foi extremamente válida, pois conseguimos trazer a pauta da ciência para o centro do debate eleitoral. Cabe observar, porém, que o sistema político é fechado à renovação e privilegia a eleição de pessoas que já estão na política e possuem mandato.

Essa é uma limitação a ser enfrentada em novas tentativas. Mas não podemos desistir, pois a defesa da ciência na política continuará sendo uma necessidade.

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Essa newsletter tem curadoria de Luiza Caires, desenvolvimento de Renata Hirota, design de Rodolfo Almeida, edição de Alexandre Orrico, Samira Menezes e Sérgio Spagnuolo e apoio do Instituto Serrapilheira. Saiba mais.

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